A falta de acessibilidade em eventos de entretenimentos ainda acontece no Brasil
- Gabriela Menossi
- 13 de ago. de 2023
- 7 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Por: Gabriela Mazzone Menossi
São Paulo 13 de agosto de 2023
Apesar dos avanços perceptíveis na melhoria da acessibilidade em eventos de entretenimento para PcD, ainda persistem desafios significativos que afetam a mobilidade ou acesso da população com deficiência.

Por: Site UOL. Vinícius Sardi conta sobre sua participação no The Town.
Segundo o site de notícias G1, o Brasil tem 18,6 milhões de pessoas com deficiência, equivalendo a cerca de 8,9% da população, segundo o IBGE. De acordo com Pablo de Oliveira Teixeira, Ricardo Lopes Correia, Sebastião de Sousa Barbosa e Mirela Leite de Araujo, pessoas com deficiência e/ou diversidade funcional, o IBGE afirma que 23% da população brasileira sofre com algum tipo de exclusão ou segregação por parte da sociedade e dos eventos culturais e artísticos. (L.R Correia 2019)
Segundo a EqualWeb, a falta de acessibilidade nos espaços não afeta somente as pessoas com deficiência, mas todas as pessoas, como, por exemplo, indivíduos que possuem alguma condição temporária. Qualquer pessoa que não consiga um acesso, seja de atendimento de comunicação ou rampas, todas têm os mesmos direitos.
Heloísa Rocha, jornalista e PcD, é especializada em moda inclusiva, estudou pós-graduação em comunicação jornalística pela Cásper Líbero e administra as redes sociais e site da Rádio Gazeta Online. Rocha observa que nos eventos de entretenimento, como shows e festivais, há avanços notáveis em termos de acessibilidade. Ela destaca exemplos positivos, como a instalação de rampas e espaços exclusivos para pessoas com deficiência. No entanto, Heloísa faz uma observação crucial “embora essas melhorias sejam apreciadas, a jornada para acessibilidade continua sendo uma trilha desafiadora.”
Segundo Heloísa, os caminhos de acesso destinados às pessoas com deficiência muitas vezes são mais difíceis de percorrer, envolvendo trajetos mais longos de caminhada ou buracos no meio do caminho. Essa realidade ilustra uma luta contínua para alcançar uma verdadeira inclusão, onde a acessibilidade não seja apenas uma regra, mas uma parte integrante do ambiente.
Além disso, Heloísa comenta sobre um aspecto de sua experiência e, desafios que pessoas com deficiência sofrem em eventos de entretenimento. A jornalista compartilha um sentimento de segregação, enfatizando que, frequentemente, a sociedade as retrata como “coitadinhas”. Essa perspectiva limitada não só subestima suas capacidades, mas também pode ser prejudicial para o crescimento e desenvolvimento da pessoa em sua vida na totalidade.
Aos olhos de Luiza Habib, farmacêutica, assessora de acessibilidade e pessoa com deficiência, com uma doença rara e degenerativa, que segundo Luiza é a única no mundo por enquanto a ter a condição, argumenta que a acessibilidade em shows e festivais é muito precária até os dias atuais.
Luiza diz “eles dizem que o evento é acessível, mas na hora que você chega, não tem acesso nenhum.” Ela relembra de um evento em Brasília, do qual, teve de ser carregada, pois, a assessora explica, ”que simplesmente fecharam a única rampa que existia naquele local.” Habib complementa “nenhuma pessoa com deficiência vai ao evento e constrói acessos para as pessoas com deficiência, nem mesmo existem treinamentos adequados”.
Mas segundo a farmacêutica, existe um evento em sua cidade chamado “Na Praia”, onde conforme a entrevistada, ela se sentiu representada, pois, ali, “todas as pessoas se conectavam entre si”.
Amanda Lyra, artista musical, PcD, especialista em acessibilidade digital, palestrante de acessibilidade, especialista em diversidade e inclusão, comunicadora, e também pessoa com deficiência, argumenta que sempre lutou pelos direitos das pessoas com deficiência, da qual, Amanda acredita que foi uma das pessoas que fizeram a diferença no Brasil.
Segundo a comunicadora, ela elencou o termo cultural de se obter cotas para PcDs nos editais, no Fórum Arsenal de Pessoas com Deficiência em Curitiba.
Lyra explica que sempre foi a única a estar em espaços exclusivos para PcDs, pois, conforme a musicista, as crianças a revelavam ter medo de se expressarem ou mostrarem quem são, pois, possuíam alguma deficiência.

Por: Linkedin Amanda Lyra Amanda conta sobre acessibilidade no Lolapalooza.
A comunicadora relata um caso que aconteceu consigo no Lollapalooza, evento que ocorreu nos dias 24, 25 e 26 de março no Autódromo de Interlagos. Lyra comenta que foi extremamente inadmissível o que viveu no local. A especialista em acessibilidade conta que não encontrava banheiros acessíveis e que também os sanitários dos espaços exclusivos para PcDs, eram longe e o acesso era de grama e pedras.
Amanda, se mostra também indignada com o atendimento do evento do qual, as camisetas dos funcionários que prestavam suporte estavam com uma nomenclatura capacitista, dizendo “atendimento de deficiente” ao invés de “atendimento às pessoas com deficiência”.
Murilo Feijó, redator de saúde e bem-estar, entusiasta de pautas sobre comportamento e colaborador na Editoria de fitness, explica que pessoas com deficiência devem ter o direito de obterem uma vida sendo aproveitada com leveza e sem barreiras. Contudo, a falta de um ambiente acessível, as tornam vulneráveis e sem suas liberdades fundamentais como ser humano.
De acordo com Murillo, Ricardo Milito diz “Além de lidar com os desafios e impactos das limitações físicas ou psíquicas na rotina, a exclusão social e a falta de acessibilidade também podem causar raiva, culpa, angústia, afetando negativamente a autoestima dessas pessoas”.
Os shows e espetáculos festivos, estão cada vez mais se destacando, mas, para pessoas com deficiência, segundo as entrevistadas, é um tema novo e recente, do qual, precisa ser melhor refletido pelas pessoas que comandam essas festividades.
Eventos corporativos têm mais avanços em acessibilidade de acordo com Amanda Lyra
A comunicadora explica que acredita na melhora dos eventos corporativos, Amanda diz “cada vez mais vejo pessoas com deficiência ocuparem espaços, do qual, antes, eram segregadas e nós não éramos convidadas para nenhum evento. E isso, acredito que esta ação, seja por conta da legislação para as empresas, da qual, estão sendo obrigadas a contratar 5% de pessoas com deficiência em seus escritórios”. A legislação, descrita por Amanda Lyra, foi criada em 2012 e sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff.
Habib lembra quando revolucionou a acessibilidade em uma empresa multinacional, onde houve mudanças na companhia para a sua chegada. Luiza comenta que foi neste lugar que ela decidiu ir mais a fundo e manifestar a sua luta pelas pessoas com deficiência nos ambientes corporativos.
E que agora, traz acessibilidades para todos os negócios, dos quais, as pessoas queiram obter mudanças e conquistar diferentes públicos, trazendo mais inovação e criatividade para o comércio, diz a farmacêutica.
Thomás, Chefe de Comunicação do Gabinete da Deputada Andrea Werner, explica dos benefícios e serviços no estado de São Paulo
Segundo Thomás, já existe na legislação garantias de acessibilidade para PcDs em locais de eventos. Mas o chefe de comunicação ressalta que ainda há desafios, como o de fiscalização.
Foi criado o Gabinete da Inclusão na Alesp (Assembleia Legislativa), da qual uma das parlamentares é a Deputada Andrea Werner, uma mulher que descobriu ser autista aos 47 anos e mãe de um menino do espectro.
O objetivo deste Gabinete da Inclusão, de acordo com Thomás é receber denúncias de reclamações que envolve o capacitismo, a falta de acessibilidade no local e a falta de acesso na educação para a população com deficiência.
O chefe do gabinete da Deputada complementa, “com as denúncias, acionamos o ministério público ou secretarias e prefeituras, por exemplo, para questionar o porquê de instalações não serem ou estarem acessíveis” e que “há projetos de lei com objetivos correlatos a esse já tramitando, como a expansão o programa ATENDE para todo o estado, a instalação de trocadores para adultos em banheiros de locais públicos e outros.”
O Atende se refere a um Serviço de Atendimento Especial criado no dia 9 de maio de 1996, do qual, ajudará pessoas “autismo, surdocegueira ou deficiência física com alto grau de severidade e dependência, no horário das 7h às 20h, de segunda-feira a domingo, excetuando-se os feriados”.
Esse serviço funciona com um pré-agendamento de viagens. Além disso, o Atende oferece atendimentos nos finais de semana, a categoria na qual é denominada “eventos aos fins de semana”. Nesta modalidade, as instituições que trabalham com pessoas com deficiência, precisam efetuar o cadastro prévio na SPTrans Cadastro Atende+.
A conscientização e a ação contínua são cruciais. É fundamental que os organizadores priorizem o treinamento da equipe e adotem soluções tecnológicas, como aplicativos informativos de acessibilidade. Além disso, também é importante promover a interação entre PcD e o público geral. Isso pode contribuir para um ambiente mais acolhedor e empático, como ressalta Heloísa Rocha.
As vozes daqueles que dependem da acessibilidade ressaltam problemáticas significativas como a falta de informações pré-evento em formatos acessíveis, assentos inadequados e a ausência de treinamento da equipe para lidar com o público PcD. Essas barreiras minimizam a experiência inclusiva, do coletivo nos locais de entretenimento.
O evento The Town que ocorreu neste sábado, 02 de setembro e no domingo 03, parece não ter sido acessível para todos
O The Town é o maior festival de música, cultura e arte do país e aconteceu neste final de semana, em São Paulo. O evento contou com cinco palcos e cenografia inspirada em ícones da arquitetura paulistana, segundo o site do The Town conta.
Vinícius Sardi, ativista PcD e presidente da Associação Brasileira Paraskate (ABPSK), faz uma reclamação em seu instagram, sobre a acessibilidade no evento. Segundo ele, o ativista possui duas próteses na perna, e, foi barrado de entrar na área PcD, ele disse que os funcionários do festival o disseram que não classificam prótese como prioridade.
Sardi diz que se sentiu completamente excluído e ressaltou que pagou caro para estar nesse evento. O presidente da ABPSK fez uma ressalva aos organizadores do evento “eu estou muito triste, iria até embora, pois paguei uma grana para estar no evento e me sinto totalmente excluído”. Ele reforça “pessoal que está cuidando da acessibilidade aqui, prestem atenção para isso, pois, essa situação pode deixar muitas pessoas chateadas.”
Maria Paula Vieira, primeira fotógrafa a se consolidar no Brasil, também esteve no The Town. Maria conta que no local exclusivo para pessoas com deficiência, era acessível, com uma área enorme, que segundo a fotógrafa, conseguia se locomover.
Mas, ela comenta que localizou muitas pessoas com deficiência impedidas de entrar no The Town, por não considerarem prioridade suas deficiências. Ela cita uma mulher com deficiência intelectual leve que também não conseguiu entrar na área PCD.
Vieira comenta também que no local, se encontrava uma grande rachadura no meio do caminho, do qual, ela e seu namorado caíram com a cadeira de rodas, mas que ficaram bem, “mesmo com alguns ralados no corpo”, afirma Maria Paula.



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